terça-feira, 8 de junho de 2021

Teatro se reinventa na internet, mas ainda busca forma de faturar para salvar profissionais parados

Quase 350 temporadas de peças foram interrompidas pela pandemia do corona-vírus só no Rio e em SP


Maria Roberta Dias Mendonça Bittencourt

Fonte: g1.globo.com

Em: 20.04.2020


Teatros são fechados durante a pandemia
Imagem: www.teatroeducavida.com.br

Com o fechamento dos teatros na quarentena, cerca de 12 mil profissionais do setor tiveram que parar, só no Rio e em São Paulo.

A estimativa da Associação dos Produtores de Teatro (APTR) é que, nas duas capitais, as temporadas de quase 350 peças tenham sido interrompidas pela pandemia da corona vírus.

Segundo a entidade, pelo menos 70% desses espetáculos não tinham patrocínio - ou seja, suas rendas dependiam exclusivamente da bilheteria.

"Nosso setor vive de aglomeração. A música tem os direitos autorais. O audiovisual ainda pode ser exibido em plataformas de streaming. Já o teatro é feito ao vivo", diz Eduardo Barata, presidente da APTR.


Artistas de teatro se reiventam durante a pandemia
Imagem: www.jornalnopalco.com.br


Como outras, a área tem tentado se reinventar, gerando conteúdo na internet, mas - diferentemente do mercado musical, por exemplo - ainda não encontrou formas de faturar online. "Como monetizar o teatro na internet? Esse é o grande 'X' da questão."

Veja, mais abaixo, páginas com espetáculos para assistir na internet.

 

Teatro no sofá

Uma via que já vem sendo testada é o streaming de peças teatrais. Mais ou menos como acontece com músicas e filmes nesse tipo de plataforma, os espetáculos são disponibilizados em vídeo, em um catálogo variado, para assistir onde e quando quiser. Essa é a ideia do site Espetáculos Online, lançado durante a quarentena.

Criado pelo produtor audiovisual Eduardo Chamon, que atua no registro de peças, o serviço é um acervo de filmagens de obras adultas e infantis para assistir na íntegra, sem pagar nada.

"O teatro filmado sempre foi algo para guardar, deixar na prateleira. Todo esse material estava guardado em gavetas. Queremos abrir essas gavetas", explica Eduardo.

A página ainda não gera receita. Num modelo colaborativo, as gravações das peças são enviadas pelos próprios produtores e passam por uma curadoria.

Eduardo diz que, em relação à experiência de assistir a um filme, por exemplo, o teatro filmado oferece "a sensação de estar numa plateia". "Tem a emoção, a gargalhada. No momento em que estamos vivendo, estamos aceitando nos colocar dentro de uma plateia virtual."

Outra alternativa foi encontrada pelo ator Ivam Cabral. Ele estava prestes a viajar em um tour pela Europa com seu monólogo, "Todos os sonhos do mundo", quando a pandemia se intensificou.

Decidiu, então, estrear uma temporada virtual, com apresentações ao vivo pelas redes sociais. "Meu trabalho é exceção. Por acaso, eu tinha um solo, e não uma peça com elenco de dez pessoas, que precisa de uma equipe. Nesses outros casos, vamos ter que organizar e planejar para fazer dar certo", diz.

"Vai ser necessário encontrar um jeito de cobrar ingresso (pelas apresentações online). Acho que isso logo vai acontecer porque vai demorar bastante para que a gente possa se encontrar de novo."

De fato, a expectativa no setor é que a rotina se normalize só no ano que vem. Por isso, a APTR já estuda formas de rentabilizar os serviços de teatro pela internet.

"Nós não temos a estrutura que os [cantores] sertanejos têm. Mas estamos pensando nisso. Talvez, um projeto com atores em suas casas", diz o presidente da associação.

"Mas ainda estamos estudando como isso atingiria nossa cadeia produtiva de forma geral - técnicos, autores, artistas."

Enquanto a solução não aparece, a entidade tenta arrecadar doações para ajudar profissionais do setor que perderam suas rendas. "Estamos falando de pessoas que estão sem dinheiro para comer", diz Eduardo.

"Ainda estamos tentando entender quanto tempo isso vai durar. Boa parte do público de teatro é de idosos [grupo de risco da Covid-19. Quanto tempo essas pessoas vão demorar para voltar aos teatros?", questiona Chamon.

Barata compara o impacto da pandemia no setor a uma "terceira guerra mundial", mas é otimista. "O teatro nunca vai acabar. Ele passou por todas as crises mundiais e se manteve em pé. É claro que há uma questão econômica, mas a arte e a cultura prevalecerão."

 

Onde assistir a espetáculos na internet

Espetáculos Online: Site tem obras na íntegra para assistir de graça. Estão no acervo, por exemplo, a infantil "Pluft, o fantasminha" e a adulta "Incêndios".

Cennarium: Plataforma de streaming paga tem peças de teatro, musicais, danças, óperas, circos e infantis do mundo todo. Assinatura custa R$ 19,90 por mês.

Projeto Teatro Online: A cada dia de programação, a íntegra de uma peça infantil é liberada no YouTube por um período limitado de tempo.

Teatro aberto: Projeto da companhia portuguesa abre exibições de peças todos os dias, por período limitado

Todos os Sonhos do Mundo': Monólogo de Ivam Cabral é apresentado ao vivo no Instagram, direto da casa do ator

Teatro Oficina: Espaço tradicional de São Paulo têm espetáculos inteiros na internet. Entre eles, "Os sertões", baseada na obra de Euclides da Cunha

"Romeu e Julieta": Adaptação do Grupo Galpão para o clássico está disponível online.


Atores investem em peças de teatro online
Imagem: i.pinimg.com


 

 

 

 

 

Artistas buscam alternativas de sustento durante a pandemia

Eles têm recorrido às redes sociais para "passar o chapéu" 


Maria Roberta Dias Mendonça Bittencourt

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

Em: 27.06.2020


Em função da crise sanitária provocada pela covid-19, eventos culturais de grande porte, que acabam movimentando a economia dos locais onde são realizados, foram adiados, alguns sem anunciar nova data. A organização do Festival de Cinema de Gramado, um dos principais do país, resolveu manter quase inalterada a programação, somente transferindo o evento de agosto para setembro. Mais cautelosa, a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que recebe, em média, 600 mil visitantes a cada edição, ficou para 2022.


Artista conscientizando o uso de máscara
Imagem: imagens3.ne10.uol.com.br


Ao mesmo tempo em que os espaços culturais precisam adotar o fechamento como medida de combate à covid-19 e eventos são adiados pelo mesmo motivo, artistas têm tido dificuldade de encontrar uma fonte de renda. Por essa razão, estão recorrendo às redes sociais para passar o chapéu (como se denomina, no meio artístico, a prática de recolher contribuições voluntárias após uma apresentação). 

Em um clique, encontram-se diversas postagens de artistas que, individual ou coletivamente, pedem doações ou realizam lives (transmissões online, ao vivo) para arrecadar recursos. O perfil é bastante heterogêneo. São artistas iniciantes e outros mais consolidados, como os do Teatro Oficina Uzyna Uzona, companhia que completa 62 anos de existência, este ano, e foi fundada por José Celso Martinez Corrêa, mais conhecido como Zé Celso, um dos ícones da tropicália.  

Para amparar os trabalhadores do setor, o Senado Federal aprovou, em 4 de junho, o projeto de Lei Aldir Blanc (PL nº 1075), que prevê a concessão de benefício no valor de R$ 600, além de possibilitar a distribuição de quantias para garantir a manutenção de empresas e espaços culturais. Segundo o texto, a quantia que será repassada da União, por meio do Fundo Nacional de Cultura, para estados, Distrito Federal e municípios totaliza R$ 3 bilhões. A proposta, apresentada pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro


Circo sofre com a pandemia
Imagem: midias.agazeta.com.br


Obstáculos

Como outros colegas de profissão, a artista e brincante Bruna Luiza tem passado por momentos difíceis durante a pandemia já que não há trabalhos a serem feitos. Professora de circo, ela conta que nunca conseguiu manter uma reserva financeira e que costumava complementar a renda com aulas de reforço escolar.

Sem dinheiro guardado, ela e seu companheiro decidiram deixar Brasília para ir morar em uma vila de Alexânia, interior de Goiás, onde o custo de vida é menor. Com duas crianças em casa, uma de 6 anos de idade e outra de 7, o casal está vivendo com o auxílio emergencial concedido pelo governo federal.

"Quando começou a pandemia, nossa renda vinha das aulas de circo e tínhamos vários trabalhos fechados [já acordados]. Todas essas fontes de renda se foram. Atualmente, a gente está vivendo do auxílio emergencial. A gente está se inscrevendo em todos os editais que têm, mas são perspectivas futuras, porque nenhum edital foi para agora”, afirma.

“Meu companheiro tem feito algumas lives e rodado o chapéu, mas não é nada que gere muito dinheiro, é um valor pequeno, com que dá para fazer a feira, o mínimo. Eu ainda estou precisando me adaptar a essa nova realidade para buscar uma forma de trabalho", completa.

Sobre os editais de fomento à cultura, ela critica a lógica de rivalidade que esse modelo de financiamento promove, defendendo que o processo seja revisado, tendo em vista que a crise atingiu parte significativa da classe artística.

"Eles lançam edital, no meio dessa pandemia, em que colocam em competição os artistas, que já estão em um estado de vulnerabilidade muito grande", lamenta.


Pandemia gera desempregos no circo
Imagem: uploads.bemparana.com.br



Bruna comenta que muitos artistas têm disponibilizado aulas e apresentações gratuitas, o que encara como positivo para o público e, ao mesmo tempo, como obstáculo para os artistas que poderiam conseguir remuneração ensinando o que sabem e garantir parte do sustento durante a pandemia.

"Tem muito conteúdo sendo fornecido de graça. O que você quiser saber sobre circo, flexibilidade, força, acrobacia, tem muito material sendo disponibilizado. Vejo que tem dois lados interessantes. Um é que fica acessível para muita gente. Mas também fica difícil de trabalhar, porque tem muita coisa de graça. E tem muita gente apertada [financeiramente]."

Museus

Em meados de maio, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) emitiu informe em que estimava que 13% dos museus de todo o mundo poderiam encerrar, em definitivo, suas atividades, em decorrência das consequências da pandemia de covid-19. Já naquele período, mais de 85 mil instituições, que representam 90% do total (95 mil), haviam suspendido visitações, a fim de evitar contaminações pelo novo corona vírus, e parte delas buscava se adaptar para manter exposições online. 

No comunicado, a Unesco destacou que apenas 5% dos museus localizados em países da África e países insulares em desenvolvimento estavam conseguindo manter atividades em ambiente virtual. Como essa situação, existem também outras que indicam que o segmento de cultura está sob ameaça, não apenas sob o ponto de vista de circulação do conhecimento e preservação do patrimônio cultural, mas de sustento dos profissionais do ramo.

De acordo com a Unesco, a falta de receita dos museus afeta também os funcionários dessas instituições e os artistas, muito deles autônomos ou trabalhando com "contratos precários".


Museus sofrem com a pandemia
Imagem: luporai.com.br


Criatividade em números

De acordo com o Mapa Tributário da Economia Criativa, elaborado pelo extinto Ministério da Cultura, em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação e a Unesco, a classe criativa correspondia a 1,8% dos trabalhadores formais brasileiros, em 2015. Em 2013, a proporção era de 1,7%. Atualmente, a economia criativa responde por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O documento foi divulgado em dezembro de 2018.

Obra nas ruas durante a pandemia
Imagem: s2.glbimg.com


Publicado em janeiro de 2019, um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta que as exportações de bens criativos do Brasil, em que se sobressaem bens de design, como moda, design de interiores e joias, somaram US$ 923,4 milhões em 2014. Naquele ano, somente as novas mídias produzidas no país, que incluem filmes, movimentaram US$ 102 milhões. Artes visuais, por sua vez, geraram US$ 92 milhões e artes e artesanato, US$ 73 milhões.


Artistas de rua sofrem com a pandemia
Imagem: www.agenciabrasilia.df.gov.br



Teatro se reinventa na internet, mas ainda busca forma de faturar para salvar profissionais parados

Quase 350 temporadas de peças foram interrompidas pela pandemia do corona-vírus só no Rio e em SP Maria Roberta Dias Mendonça Bittencourt Fo...